segunda-feira, 23 de março de 2009

Ai, que estresse essa busca!!*

Bem, já que este blog se propõe, de alguma forma, a apresentar temas sob a ótica do consumo, vamos falar serviços de busca na WEB. Gratuitos, rápidos, fáceis de usar e acessados por milhões de pessoas no mundo todo, essa ferramenta da Rede que fez com que a Google se tornasse uma gigante do mercado da internet merece ser colocada em xeque. Afinal, os chamados buscadores são realmente eficazes? Há uns melhores que outros? Diferente do que muito internauta ainda pensa, o leque de opções de serviços de busca na WEB não se resume a Google, Yahoo!Cadê ou MSN. Há muitos outros sites oferecendo esse tipo de ferramenta – alguns atuando em parceria, como é o caso do Altavista com o Yahoo!

Para efeito de análise comparativa vamos analisar as cinco primeiras ocorrências de oito sites de busca da WEB (Google, Yahoo!, AltaVista, Radar UOL, Clusty, MSN, ASK e DogPile), todos utilizando as mesmas palavras: cura do stresse (sem aspas). À exceção de um deles – o DogPile -, não foram levados em consideração os chamados links patrocinados e declaradamente custeados - na análise individual explico melhor o porquê dessa diferenciação. Vamos aos resultados:


Google – Com um (1) link patrocinado – e o patrocínio é deixado bem claro ao internauta -, o Google abre sua lista de resultados com um blog chamado “Lixo Tipo Especial”. O endereço, aliás, é campeão entre os sites de busca pesquisados, ficando em primeiro lugar em três dois oito analisados. Porém, o blog nada tem a ver – nem mesmo o texto “Cura do Stresse” – com o tema pesquisado. Trata-se de uma crônica voltada para o humor, a diversão, e não para a doença apontada. A lista do Google segue com um site de saúde (Saúde Vida Online), um de cartunistas, um com propaganda de uma publicação e fecha com um download de papel de parede para o PC. Vale salientar que o Saúde Vida Online e o www.cartunistas.com.br são encontrados, novamente, no Radar UOL (2º e 4º lugar, respectivamente)

Yahoo! – Também traz um link patrocinado (e não utilizado para estar análise) claramente identificado. O Yahoo! também abre sua lista com o blog “Lixo Tipo Especial”, seguido de outro blog, do Curso Jornalismo 2.0 – em uma mesma atividade como a desenvolvida neste texto -, além do Sistema de Cura Corpo Espelho, do Desciclopédia (uma espécie de enciclopédia na WEB) e um link de massagem da cura do sono. Aqui também há coincidências, dessa vez com a busca do AlvaVista. Enquanto no Yahoo! os links “Lixo Tipo Especial”, Curso Jornalismo 2.0, Sistema de Cura Corpo Espelho e Desciclopédia aparecem em 1º, 2º, 3º 4 º lugares, no Altavista a mesma seqüência é encontrada uma posição abaixo – 2º, 3º, 4º e 5º lugares, respectivamente.

AltaVista – “O CEFALUS é um conjunto de software e hardware que utiliza pulso de luzes e sons, em específicas frequências para alterar as ondas cerebrais, fazendo assim com que alguns estados de consciência possam ser alcançados.” Essa é uma frase retirada do site que aparece em primeiríssimo lugar no ranking do AltaVista. Fiz questão de reproduzi-la aqui só pra termos uma idéia do que o internauta em busca de informações sobre cura do stress pode encontarr. As demais posições já foram reveladas no texto sobre o buscador Yahoo! (2º Lixo Tipo Especial, 3º Curso Jornalismo 2.0, 4º Sistema de Cura Corpo Espelho e 5º Desciclopédia). Uma característica interessante e pouco clara do Altavista é que ele não revela quais são os links patrocinados, trazendo apenas um link “combinações patrocinadas” que levam o internauta a uma outra página explicativa sobre a política de comercialização do espaço no site. Porém, mesmo depois da leitura, não consegui identificar quais eram espaços pagos.

Radar UOL – Aqui o ranking também é previsível/repetitivo, iniciado com o blog “Lixo Tipo Especial”, seguido pelo Saúde Vida On Line, em seguida com o site do livro “A Cura pelo Estresse” (editora Record) e do site www.cartunista.com.br. A única novidade na lista do UOL é o blog PALÁVORAS, que reproduz parte de um artigo da revista Ladies Home Journal intitulado “Dicas rápidas para cura do stress”. O Radar UOL também deixa claro seus links patrocinados – traz dois em separado, em espaço claramente delimitado dos demais na-pagos.

Clusty – Aqui começam as diferenças evidentes em relação aos demais buscadores já citados pelo fato do Clusty ser um site não-brasileiro. Então, o ranking fica bem peculiar, já que a busca foi feita com uma frase em português. O resultado ficou assim: 1º) www.ansia-panico.net – um site italiano que trata do tema, realmente; 2º) Celtic Astrology, que, como o próprio nome diz, faz referência à astrologia; 3º) Cura do Stress on Vimeo – um link que leva à famosa animação do hipopótamos que canta enquanto seu amigo cão chama a atenção durante a performance do cantante. Interessante que esse vídeo se repete não apenas em outros dois buscadores (ASK e DogPile) como aparece no ranking duas vezes, postado em endereços diferentes (um no youtube, outro no vimeo). Em 4º lugar surge o site www.reefcare.org, na verdade uma fundação que busca preservar corais marinhos. Não li o conteúdo todo para tentar entender a conexão entre os corais e o stress, mas, à primeira vista, não há nada sobre a cura da doença. Enfim, em 5º lugar desponta o “Arabian Astrology”, na verdade um texto do mesmo site do 2º colocado, “Celtic Astrology”. Quanto ao material patrocinado, o Clusty deixa claro seus links pagos. Nessa busca foram relacionados dois deles (não computados nessa análise).

MSN – No buscador do MSN o tópico “cura do stress” (sem aspas, na busca realizada) é aberto com o link da Itaoca Pousada Camping, seguido do Lótus Life, um site de serviço motivacional e ocupacional voltado para o bem-estar da pessoa. Em terceiro lugar algo mais exotérico, com o Reiki Universal. Em seguida, novamente o turismo desponta no MSN, com o ODIR Turismo Camping. Finalmente, fechando a lista dos cinco primeiros no MSN está o já visto Saúde Vida On Line, que realmente traz informações sobre a cura do stress. Também o MSN deixa claramente identificado seus links patrocinados (aqui foi listado apenas um, nessa categoria).

ASK – Característica interessante do ASK, também um site não-brasileiro, é a ocorrência de dois vídeos no ranking dos cinco primeiros sites sobre “cura do stress”. Na verdade, apesar de endereços diferentes, o resultado do acesso tanto ao “YouTube – Cura do Stress” quanto do “Cura do Stress on Vimeo” – que despontam em 1º e 5º lugar, respectivamente – revelam o mesmo vídeo: o do hipopótamos que canta enquanto seu amigo cão surge na tela, atrapalhando a performance do grandalhão cantador. No “recheio” dessa listagem estão o site stressmarket.com – ou adesivos para curar o stress (2º lugar), www.Healthline.com – uma espécie de site especializado em saúde, mas com foco em venda de produtos/serviços (3º lugar) e o www.PanicAway.com – que trata de uma “técnica natural” para acabar com ataques de pânico! (4º lugar). Também o ASK aponta os links patrocinados e que, curiosamente, não aparecem no topo da lista.

DOGPILE – Também não-brasileiro, o DogPile foi o único site de buscar listado nessa análise em que foram levados em consideração links patrocinados. Isso porque, das cinco primeiras ocorrências para “cura do stress”, apenas uma não foi apontada como patrocinada. Por esse excesso de links pagos decidi manter a lista “paga”, com apenas o 4º lugar listado gratuitamente. E mais: o “sinal” de que o link é patrocinado vem antes da URL (com a frase ‘sponsored by:’), e não claramente, junto ao link principal do site, com se observa em todos os demais sites de busca aqui analisados. Abre a lista do DogPile o site stressmarket.com, com os adesivos anti-stress já citado em segundo lugar no ASK; Depois vem o journals.pepublishing.com, um site voltado para o mercado editorial profissional americano (estranho, não?!?); Em terceiro lugar está o healthline.com – e isso faz com que haja dúvidas sobre a gratuidade desse link em outros sites, já que aqui ele está como patrocinado; Em quarto lugar o vídeo do hipopótamos e do cão, postado no Vímeo surge novamente – e é o único da lista não patrocinado. Encerrando o ranking do DogPile novamente o www.PanicAway.com, aqui patrocinado e não revelado como tal no ASK.


CONCLUSÃO… conclusão?!?
Em uma análise nada otimista dos resultados obtidos nos oito sites de busca listados com o tópico “cura do stress” fica claro que, apesar de toda facilidade, agilidade e eficiência ostentada, a busca mostrou-se quase que totalmente ineficiente. Links para vídeos e serviços/produtos a serem comercializados mostram que o “mercadão” virtual está determinando muito nas ferramentas de busca. Além disso, há o exoterismo a o transcendental. Dois ou três sites realmente apontam textos coerentes sobre a cura do stress. Porém, como nos aponta José Palazzo Moreira de Oliveira (http://palazzo.pro.br/busca/index.html), para conseguir atingir resultados desejados em uma pesquisa na internet é necessário saber qual o melhor serviço de busca a utilizar e “como escrever uma boa consulta”. Nesse caso, tentem buscar o tópico “cura do stresse” dessa forma, entre aspas. O resultado muda, e muito, de perfil. Mas essa é uma outra análise.

(*) Esse texto foi desenvolvido para o 3º Curso de Introdução do Jornalismo 2.0, oferecido pelo Knight Center for Journalism in the Américas

quinta-feira, 19 de março de 2009

Apenas um nome ou uma weblosofia?

Tudo na Internet, hoje, é Beta, é experimental. Se esse troço cair, ninguém segura. Foi com essa frase, mais ou menos nessa ordem de palavras, que o cientista-chefe do CESAR (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife), professor Silvio Meira, levou uma platéia ligada em sua palestra a pensar – e se assustar - um pouco mais sobre a plataforma Web. Em maio próximo esse diagnóstico completa um ano. Ali já se falava, entre outras coisas, da tal Web 2.0 – ou a chamada “nova internet”.

Afinal, o que esse número muda na história da World Wide Web? Primeiro, a coisa tomou proporções de debate ferrenho. De um lado, defensores do termo e da nova filosofia – ou weblosofia? – da Rede, que consiste, basicamente, no tripé Web como plataforma, participação e posicionamento essencial do usuário e competências centrais das empresas/sites dessa tal 2.0. Trocando em miúdos, na já considerava “velha” Web 1.0 o foco estava na troca de e-mails, na produção de páginas por especialistas, no uso de ferramentas da Internet por programadores e tal, enquanto na Web 2.0 a coisa sofre uma espécie de revolução libertária: usuários se tornam programadores de sites, comentam e postam notícias/conteúdo, comunidades virtuais esboçam novidades e muitas vezes exigem dos empresários mudanças na forma de lidar com o internauta e o mercado.

Tudo bem até aí. Porém, do outro lado da balança estão os críticos dessa Web 2.0. Não falta gente pra dizer que a tal Web 2.0 não passa de invencionice para tornar a internet mais lucrativa. John Dvorak é taxativo, ao afirmar que essa novidade é a “última tentativa de um esforço sem fim de reatar a mania ponto-com do fim da década de 90”. Aqui no Brasil, o arquiteto da informação Henrique Costa Pereira, em um artigo intitulado “Web 2.0 não significa nada. Me desculpe!”, mostra-se decepcionado com o alarde em torno do termo e admite ele mesmo ter caído no conto do vigário virtual. “Andando nas ruas esta semana pude ver em uma banca várias revistas com o “Web 2.0” bem destacado na capa. Pensei comigo mesmo, “isto está vendendo”! Todos querem ler sobre Web 2.0 até meio receosos ou envergonhados de ainda não saberem nada a respeito. Meu conselho é: esqueçam isso, este conceito não significa nada”, escreve Pereira, em seu blog.

Em uma coisa esse observador da Web tem razão: muito se diz e pouco se sabe sobre a própria Web 2.0. Até mesmo o cara que cunhou o termo, o presidente e CEO da Reilly Media Tim O’Reilly, não sabe muito bem dar um conceito da nova geração na Rede. Em geral, ele verifica a weblosofia de um site/serviço e diz “isso é web 2.0” ou “isso não é web 2.0”. Dessa forma fica até mais fácil verificar o que seria essa tal internet 2.0. Wikipedia, Delicious, Tweeter, MySpace e por aí vai fazem parte do conjunto colaborativo essencial para o conceito (?) da web 2.0.

Das páginas com conteúdo alimentado e editado diretamente por qualquer usuário aos sistemas de busca ou “etiquetagem”. Aqui temos um outro marco na Web 2.0 – a folksonomia. Ela se contrapõe, ou vai muito além, do tradicional sistema de rotulagem conhecido como taxonomia. Enquanto a taxonomia trata a rotulação com critério pré-estabelecidos (ordem, categorias, grupos etc), a folksonomia (de folks ou povo, em inglês) “marca” arquivos e dados com palavras de uso comum, várias delas ao mesmo tempo, sem limites de palavras-chave ou tags.

Participação comunitária do internauta, conteúdo postado/editado de forma colaborativa, democrática e aberta, etiquetas com palavras que façam parte do universo de milhares de usuários e não apenas de um grupo de especialistas, programas disponíveis para uso comum, opiniões que mudam a forma de fazer internet a cada dia. Pode até ser que a Web 2.0 seja apenas mais um nome “turbinado” para fazer mais dinheiro no universo da Internet. Mas é evidente que há diferenças básicas entre a chamada primeira geração (1.0) e a atual segunda geração (2.0). Aliás, já tem gente falando em Arquitetura da Informação 3.0. E vamos em frente! Ao que parece, mesmo, o que menos importa aqui é o nome dado a esse fenômeno. A internet, desde seu surgimento e abertura ao cidadão comum, tem se reinventado constantemente, com uma velocidade incrível. Assim como um carro, saiu do motorzinho mil (1.0) para algo, em informação e transmissão de dados, muito mais pontente.