quinta-feira, 19 de março de 2009

Apenas um nome ou uma weblosofia?

Tudo na Internet, hoje, é Beta, é experimental. Se esse troço cair, ninguém segura. Foi com essa frase, mais ou menos nessa ordem de palavras, que o cientista-chefe do CESAR (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife), professor Silvio Meira, levou uma platéia ligada em sua palestra a pensar – e se assustar - um pouco mais sobre a plataforma Web. Em maio próximo esse diagnóstico completa um ano. Ali já se falava, entre outras coisas, da tal Web 2.0 – ou a chamada “nova internet”.

Afinal, o que esse número muda na história da World Wide Web? Primeiro, a coisa tomou proporções de debate ferrenho. De um lado, defensores do termo e da nova filosofia – ou weblosofia? – da Rede, que consiste, basicamente, no tripé Web como plataforma, participação e posicionamento essencial do usuário e competências centrais das empresas/sites dessa tal 2.0. Trocando em miúdos, na já considerava “velha” Web 1.0 o foco estava na troca de e-mails, na produção de páginas por especialistas, no uso de ferramentas da Internet por programadores e tal, enquanto na Web 2.0 a coisa sofre uma espécie de revolução libertária: usuários se tornam programadores de sites, comentam e postam notícias/conteúdo, comunidades virtuais esboçam novidades e muitas vezes exigem dos empresários mudanças na forma de lidar com o internauta e o mercado.

Tudo bem até aí. Porém, do outro lado da balança estão os críticos dessa Web 2.0. Não falta gente pra dizer que a tal Web 2.0 não passa de invencionice para tornar a internet mais lucrativa. John Dvorak é taxativo, ao afirmar que essa novidade é a “última tentativa de um esforço sem fim de reatar a mania ponto-com do fim da década de 90”. Aqui no Brasil, o arquiteto da informação Henrique Costa Pereira, em um artigo intitulado “Web 2.0 não significa nada. Me desculpe!”, mostra-se decepcionado com o alarde em torno do termo e admite ele mesmo ter caído no conto do vigário virtual. “Andando nas ruas esta semana pude ver em uma banca várias revistas com o “Web 2.0” bem destacado na capa. Pensei comigo mesmo, “isto está vendendo”! Todos querem ler sobre Web 2.0 até meio receosos ou envergonhados de ainda não saberem nada a respeito. Meu conselho é: esqueçam isso, este conceito não significa nada”, escreve Pereira, em seu blog.

Em uma coisa esse observador da Web tem razão: muito se diz e pouco se sabe sobre a própria Web 2.0. Até mesmo o cara que cunhou o termo, o presidente e CEO da Reilly Media Tim O’Reilly, não sabe muito bem dar um conceito da nova geração na Rede. Em geral, ele verifica a weblosofia de um site/serviço e diz “isso é web 2.0” ou “isso não é web 2.0”. Dessa forma fica até mais fácil verificar o que seria essa tal internet 2.0. Wikipedia, Delicious, Tweeter, MySpace e por aí vai fazem parte do conjunto colaborativo essencial para o conceito (?) da web 2.0.

Das páginas com conteúdo alimentado e editado diretamente por qualquer usuário aos sistemas de busca ou “etiquetagem”. Aqui temos um outro marco na Web 2.0 – a folksonomia. Ela se contrapõe, ou vai muito além, do tradicional sistema de rotulagem conhecido como taxonomia. Enquanto a taxonomia trata a rotulação com critério pré-estabelecidos (ordem, categorias, grupos etc), a folksonomia (de folks ou povo, em inglês) “marca” arquivos e dados com palavras de uso comum, várias delas ao mesmo tempo, sem limites de palavras-chave ou tags.

Participação comunitária do internauta, conteúdo postado/editado de forma colaborativa, democrática e aberta, etiquetas com palavras que façam parte do universo de milhares de usuários e não apenas de um grupo de especialistas, programas disponíveis para uso comum, opiniões que mudam a forma de fazer internet a cada dia. Pode até ser que a Web 2.0 seja apenas mais um nome “turbinado” para fazer mais dinheiro no universo da Internet. Mas é evidente que há diferenças básicas entre a chamada primeira geração (1.0) e a atual segunda geração (2.0). Aliás, já tem gente falando em Arquitetura da Informação 3.0. E vamos em frente! Ao que parece, mesmo, o que menos importa aqui é o nome dado a esse fenômeno. A internet, desde seu surgimento e abertura ao cidadão comum, tem se reinventado constantemente, com uma velocidade incrível. Assim como um carro, saiu do motorzinho mil (1.0) para algo, em informação e transmissão de dados, muito mais pontente.

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